quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O social e a saúde


A construção da conceituação de saúde, ao longo da história, esteve associada às respostas que o homem buscava para o fenômeno da vida e da morte. A medicina grega desenvolveu-se através dos filhos de Asclépio, que eram os homens que praticavam a cura baseada no conhecimento empírico. Será desses asclepíadas laicos que irá surgir a tradição hipocrática na medicina ocidental, culminando com a produção do Corpus hippocraticum, volumosos escritos deixados por diferentes corporações asclepsianas. No livro Ares, Água e Lugares, um dos mais significativos do Corpus hippocraticum, já aparece claramente o que hoje chamamos de ecologia humana. A definição de saúde, exposta nos escritos hipocráticos, aponta para a busca de um estado de equilíbrio entre as diferentes influências ambientais, que geram modos de vida e os vários componentes da natureza humana. Como é possível observar, há 2.500 anos já havia sido esboçada uma conceituação de saúde que demonstrava a relação direta entre meio ambiente, corpo e mente.

Num segundo momento, devido a novas organizações sociais em curso, aparece o desenvolvimento da fisiologia experimental, especialmente as descobertas realizadas por Galeano (131-201 d.C.), na dissecação de órgãos. Essas dissecações possibilitaram análises comparativas de órgãos bons com os defeituosos. As descobertas fizeram com que predominasse o estudo das patologias, em detrimento da investigação sobre a higidez. Dessa forma, o percurso da estruturação da nosologia dos sintomas e natureza das patologias ganhou muitos adeptos, principalmente com os vários estudos realizados na Idade Média. Iniciou-se, assim, uma conceituação negativa da saúde, enquanto ausência de doença, visto que a medicina começou a acumular mais conhecimentos sobre a doença do que os indicadores e atributos que pudessem definir a sanidade física e mental.

Somente em meados do século XX começaram a surgir definições de saúde não restritas aos aspectos orgânicos, mas procurando abarcar a totalidade do homem envolto com o seu meio ambiente, o que parece ser um retorno ao tratado ecológico de Hipócrates. Mas será em 1946 que a conceituação de saúde começa oficialmente a mudar: a Organização Mundial de Saúde, na publicação dos seus documentos básicos, expõe no preâmbulo da sua Constituição uma nova definição, reconhecendo que a saúde é um completo estado de bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de distúrbios ou doença.

Mas, apesar do avanço na definição de saúde da Organização Mundial de Saúde, o fato é que essa conceituação proposta pela OMS é ampla, subjetiva. Para o médico sanitarista Carlos Gentile de Melo, essa definição aparece como algo inatingível, utópico, pois não leva em conta as imperfeições humanas e as infidelidades do meio. Parece, então, importante apontar que a relação saúde/homem se dá através da instrumentalização do ser humano pela via da informação, que possa potencializar o seu enfrentamento frente às adversidades da vida contemporânea, ou seja, o seu devir, a sua história.

Surge, dessa forma, a visão social de saúde, passando a compreender que o homem é, geralmente, mais um produto das suas relações com o seu ambiente do que somente com os seus dotes genéticos, ou seja, a saúde de um povo pode ser determinada não só por sua raça, mas por suas condições de vida.

Dentro dessa visão, passa a existir uma nova conceituação do processo saúde-doença, na qual são levados em conta os determinantes sociais do adoecimento, assim como os “modos de vida” como desencadeador ou não da higidez.

E a Psicologia? Como se insere nessa questão? O que se pode dizer é que a Psicologia tem sido, em grande parte, ancorada no estudo do desvio, do patológico, o que a coloca dentro de uma visão quase sempre conservadora de saúde. No Brasil, só recentemente começaram a surgir pesquisadores preocupados com uma conceituação mais ampla de saúde.Um dos resultados que já aparecem dessas reflexões é a definição da atuação do psicólogo, hoje, enquanto um profissional de saúde, entendida esta saúde agora, não apenas como ausência de doença, mas na direção de uma visão sistêmica de saúde, privilegiando uma atuação coletiva, junto com outros profissionais, para buscar instrumentalizar a comunidade com o objetivo de promover a saúde da população.

A promoção de saúde, dentro da Psicologia, é definida, na visão sistêmica de saúde, através da compreensão de que fatores relacionados ao modo de vida dos homens estarão atuando de forma direta nas reais possibilidades de uma vida saudável ou não. Com isso, a concepção de saúde é ampliada para além dos limites da ausência de doença e está ligada a vários aspectos presentes na vida do homem, como moradia, lazer, educação, trabalho, etc. Será o equilíbrio desses componentes da vida diária que irá formar o grande mosaico da saúde humana.

Mas, para o psicólogo atuar nessa direção, ele deve ter clareza sobre a concepção de fenômeno psicológico que abarca essa visão. O fenômeno psicológico deve ser compreendido como algo constituído nas e pelas relações sociais e materiais. Essas relações não são entendidas como algo externo que influencia o fenômeno psicológico que é interno, mas como aspectos de um mesmo movimento de construção. Dessa forma, não é possível falar em mundo interno sem falar do mundo social que o constitui.

Trecho retirado de "A Adolescência e Psicologia: práticas e reflexões críticas"
Maria de Lourdes Jeffery Contini - Coordenadora do projeto

2 comentários:

  1. N entendo nada da sua ciência. Entendo apenas, por enquanto, e mto bem, dos sintomas.
    Mas acho sinceramente que estamos muito longe de diagnósticos precisos, para tratamentos 100% eficazes.
    Enxergo que todo direcionamento segue para um tripé: Genética / fisiologia / ambiente.
    Desculpe o sincero desprezo por todo estudo teórico que até hj se desenvolveu. Mas acho que só a tecnologia vai realmente levar ao entendimento seguro de todos os transtornos cerebrais desenvolvidos. Se levarmos em conta que ainda na década de 70 a polêmica era de que um transplantado de coração, receberia a alma do doador; e se levarmos em consideração que o tomógrafo 360 foi inventado um dia desses, acho que temos muito o que descobrir ainda pela frente.

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  2. e eu me pergunto: o q sabe a dopamina sobre as consequencias de sua carencia ou excesso no organismo? assim como alguns dizem q n entendem da ciencia e entendem mt bem dos sintomas! onde esta a tecnologia disso q vc sabe?
    a tecnologia eh uma grande aliada, mas nunca podera tratar de tds os "males mentais". o q sabe a tecnologia sobre o sentir? km n sente pode cuidar do q se sente? ser humano eh ser sentimental? ou ser sentimental eh ser humano?

    soh sei q n vou conseguir nunca falar das minhas tristezas, carencias e alegrias p tecnologia do não sentir!

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